quarta-feira, 19 de março de 2008

Made in USA (Brazil, France, Argentina...)? Não... Made in China!

Em matéria de consumo, uma reflexão que cada vez mais tem se tornado incontornável é a da relação entre os problemas ambientais e as (más) escolhas do consumidores. A proposta do consumo sustentável perpassa por esse aspecto, incitando os consumidores a pensar sobre as suas escolhas e fazê-las de modo consciente e com vistas à redução dos impactos ambientais do seu consumo.

Embora o discurso seja sedutor, é necessário olhar essa proposta com cautela. Certamente, o consumidor tem sua dose de responsabilidade em bem escolher o que consome. Mas, até que ponto pode, de fato, exercer o seu direito de escolha? Será que sempre é possível escolher o que se quer consumir, numa organização social em que apesar da enorme variedade e das inovações que são lançadas diariamente no mercado, os produtos se originam de um universo mais ou menos restrito de produtores e fornecedores?

É o que tem ocorrido, por exemplo, com a entrada pesada dos produtos chineses no mercado global. Nesse caso, praticamente não há escolha ao consumidor, pois, ou aceita comprar o chinês ou nada feito: vai ficar sem computador, sem celular, sem as lembrancinhas de Natal e até sem roupa para vestir! A recusa no consumo de produtos cuja origem seja chinesa é, nos dias de hoje, praticamente impossível, já que, mesmo que nos comprometamos a não comprar itens de consumo com essa origem, muitas vezes eles entram na produção de outros bens, e acaba-se consumindo-os sem saber.

Embora o velho e bom boicote deva permanecer firme como uma importante ferramenta de interferência dos consumidores nos rumos do mercado, não há como negar que cada vez mais certas questões - como é o caso da degradação ambiental, da má distribuição de renda, da qualidade de vida, entre tantas outras - por sua magnitude e complexidade, exigem que se lance mão de outras soluções que não dependam apenas das ações individuais dos cidadãos mais conscientes, mas que se fundamentem na força da participação social e em soluções pensadas e praticadas coletivamente.


O consumidor individual deve, sim, estar atento ao que consome. Contudo, cabe também ao Poder Público e aos fornecedores estar atento ao que tem sido colocado à disposição da sociedade e, principalmente, sensíveis às situações de vulnerabilidade do consumidor. Produtos que se originam de processos insustentáveis do ponto de vista social e ambiental, por melhor que seja seu desempenho no aspecto econômico, não se justificam, exatamente porque o ganho se estabelece através da perversa "socialização dos prejuízos e privatização dos lucros". Por isso, a efetivação dos direitos dos consumidores, especialmente pela defesa dos interesses difusos e coletivos, é certamente um passo fundamental e imprescindível para cogitar uma verdadeira mudança nos atuais padrões de consumo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Soluções individuais para problemas coletivos?

Hoje pela manhã, assistindo ao noticiário, ouvi um comentário que soou mal aos meus ouvidos: um consultor de segurança - pois é, há especialista para tudo - ao analisar o crescimento do mercado de blindados no Brasil, constatava que, porque o Poder Público não responde adequadamente à necessidade de segurança da população, caberia ao cidadão, então, encontrar suas maneiras de se defender da violência.
Mesmo descontando o fato de que este é o ganha-pão dessa pessoa, o que me parece preocupante nessa afirmação é o fato de corroborar uma prática que tem sido cada vez mais comum aos brasileiros: a busca por soluções individuais para problemas coletivos. Segurança pública não se resolve com cercas elétricas e blindagem, assim como questões ambientais graves como a do lixo ou da poluição atmosférica das grandes cidades não serão definitivamente solucionadas apenas com o sacrifício individual dos consumidores, consumindo menos, pagando mais caro por produtos ecologicamente corretos ou deixando seus veículos particulares na garagem uma vez por semana. Por mais que o cidadão se desdobre para impedir que a violência invada sua casa, somente a segurança pública, proporcionada à coletividade em geral, é que poderá oferecer a tranqüilidade e a paz que todos (e não só os que podem pagar por isso) merecem ter, da mesma maneira que, por mais que o consumidor se esforce para diminuir o impacto de suas escolhas de consumo sobre o meio ambiente, somente políticas públicas bem elaboradas e rigorosamente executadas é que poderão proporcionar um ambiente mais sadio e equilibrado, mediante a oferta de tratamento adequado aos resíduos sólidos ou transporte público eficiente, apenas para citar exemplos.
Precisamos estar atentos para não nos deixarmos levar, até de modo inconsciente, por esses discursos. Mais do que nunca, diante de questões coletivas de magnitude, reivindicar direitos, especialmente os direitos sociais dos quais todos somos titulares, pode ser um caminho difícil, porém o único que capaz de proporcionar soluções mais efetivas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Amanhã, 15 de março, será comemorado o dia do consumidor. De que jeito você vai celebrar esta data?

Minha sugestão para esta data é refletir sobre o significado da comemoração. Para que se festeja o dia do consumidor? Que conquistas justificam essa celebração? O que signfica ser consumidor e ser identificado como tal nos dias atuais? Que hábitos têm sido e ainda precisam ser cultivados pelos consumidores para construírmos um mundo mais sustentável? Afinal, temos sido consumidores ou consumistas?