Há um consenso mais ou menos geral de que vivemos um tempo de crise nas relações humanas. Ao mesmo tempo em que aceitamos mais a diversidade, seja ela cultural, racial, religiosa, sexual, etc., paradoxalmente não temos nos tolerado muito no trânsito, no metrô, no condomínio... Há uma queixa geral da sociedade que estamos cada vez mais individualistas, egoístas, competitivos, solitários, num clima de muita desconfiança em relação ao outro.
Nesse ambiente, em que cada vez mais o círculo de amigos e de convivência se restringe, as nossas necessidades - que antes eram supridas pelo grupo social - começam a ser satisfeitas por outras vias, ou melhor, por outra via: a do consumo. Se eu tenho o MEU carro, torno-me autônomo para sair da festa ou da aula a hora que quiser, em vez de ficar esperando a carona do meu colega; se tenho MEU livro, estudo para a prova no momento que estiver disposto, sem precisar esperar por ninguém devolvê-lo ao acervo da biblioteca; se tenho a MINHA mala de viagem, não preciso pedir emprestado para o meu vizinho, caso surja uma inesperada viagem de trabalho, e assim por diante.
Uma das utilidades de se viver em grupo - quiçá a principal - é a de conquistar coisas que, sozinhos, seria impossível. Convivemos com nossos semelhantes e toleramos as suas falhas porque, fundamentalmente, precisamos com eles trocar e colaborar para nossa sobrevivência, para a sobrevivência da nossa espécie.
O consumo surge como uma possível fuga dessas relações: ao comprar podemos prescindir da relação com o outro, porque, ilusoriamente, passamos a não precisar dele para a satisfação das próprias necessidades. Quando saimos às compras, temos a falsa impressão de que aquele ato se pratica sem a concorrência de outras pessoas, como se os produtos e serviços postos à disposição do consumidor não fossem fruto do trabalho humano. O indivíduo supostamente se basta e pode se dar a liberdade de escolher com quem, como, quando e porque quer se relacionar.
No entanto, o consumo como via de escape é frustrante, fundamentalmente por três motivos: um porque sempre haverá mais o que consumir do que a nossa capacidade de adquirir ou de usufruir desses bens, quer pela infinidade e o crescente volume de objetos de consumo que são oferecidos no mercado, quer pela existência, permanente, de um patamar mais elevado de consumo a ser conquistado; outro porque homem é um ser essencialmente gregário, e sua natureza é avessa ao isolamento. E, por fim, como evidencia a questão ambiental, pela impossibilidade de se encontrar plena satisfação de todas as necessidades humanas através do consumo individual diante da escassez de recursos naturais para tanto.
São incoerências que, portanto, precisam ser repensadas. Se o consumo, como tem sido entendido e praticado, não é passagem garantida para a felicidade perfeita e incondicional, se não é capaz de estreitar e melhorar as nossas relações pessoais e em sociedade, tampouco capaz de solucionar as iniqüidades que assolam a humanidade, a quais interesses tem servido? Qual será a sua função?
Deixo essas reflexões para a semana, para o dia, para cada momento e... boas compras!
Nesse ambiente, em que cada vez mais o círculo de amigos e de convivência se restringe, as nossas necessidades - que antes eram supridas pelo grupo social - começam a ser satisfeitas por outras vias, ou melhor, por outra via: a do consumo. Se eu tenho o MEU carro, torno-me autônomo para sair da festa ou da aula a hora que quiser, em vez de ficar esperando a carona do meu colega; se tenho MEU livro, estudo para a prova no momento que estiver disposto, sem precisar esperar por ninguém devolvê-lo ao acervo da biblioteca; se tenho a MINHA mala de viagem, não preciso pedir emprestado para o meu vizinho, caso surja uma inesperada viagem de trabalho, e assim por diante.
Uma das utilidades de se viver em grupo - quiçá a principal - é a de conquistar coisas que, sozinhos, seria impossível. Convivemos com nossos semelhantes e toleramos as suas falhas porque, fundamentalmente, precisamos com eles trocar e colaborar para nossa sobrevivência, para a sobrevivência da nossa espécie.
O consumo surge como uma possível fuga dessas relações: ao comprar podemos prescindir da relação com o outro, porque, ilusoriamente, passamos a não precisar dele para a satisfação das próprias necessidades. Quando saimos às compras, temos a falsa impressão de que aquele ato se pratica sem a concorrência de outras pessoas, como se os produtos e serviços postos à disposição do consumidor não fossem fruto do trabalho humano. O indivíduo supostamente se basta e pode se dar a liberdade de escolher com quem, como, quando e porque quer se relacionar.
No entanto, o consumo como via de escape é frustrante, fundamentalmente por três motivos: um porque sempre haverá mais o que consumir do que a nossa capacidade de adquirir ou de usufruir desses bens, quer pela infinidade e o crescente volume de objetos de consumo que são oferecidos no mercado, quer pela existência, permanente, de um patamar mais elevado de consumo a ser conquistado; outro porque homem é um ser essencialmente gregário, e sua natureza é avessa ao isolamento. E, por fim, como evidencia a questão ambiental, pela impossibilidade de se encontrar plena satisfação de todas as necessidades humanas através do consumo individual diante da escassez de recursos naturais para tanto.
São incoerências que, portanto, precisam ser repensadas. Se o consumo, como tem sido entendido e praticado, não é passagem garantida para a felicidade perfeita e incondicional, se não é capaz de estreitar e melhorar as nossas relações pessoais e em sociedade, tampouco capaz de solucionar as iniqüidades que assolam a humanidade, a quais interesses tem servido? Qual será a sua função?
Deixo essas reflexões para a semana, para o dia, para cada momento e... boas compras!
Um comentário:
Uma importante questão que se eleva ao questionarmos a função do consumo é entende-lo psicologicamente. Por que consumir dá prazer? E em que grau o consumo substitui as relações humanas em uma sociedade individualista? Responder a essas perguntas exige muito trabalho e pesquisa, entretanto, cabe algumas considerações.
O prazer do consumo está intimamente ligado ao status, ou seja, é uma maneira de afirmar a eficiência de nossa personalidade. Explico. É na apropriação do capital através do trabalho que o capitalismo reconhece o valor do indivíduo. Assim, o dinheiro e seu respectivo consumo substituem o reconhecimento que não temos nas relações sociais puras, humanitárias. E é assim que caimos em um círculo vicioso. Não temos reconhecimento puro (não monetarizado) pela nossa capacidade de se relacionar com demais seres humanos, substituimos esse reconhecimento humano pelo trabalho profissional, ganhamos dinheiro sendo individualistas e por fim, gastamos o dinheiro numa sociedade narcisista afirmando novamente esse sistema de vida.
Agora, o grau que o consumismo afeta nossa carência de relações humanas baseadas na cooperação e altruísmo é muitas vezes proporcional a necessidade, a ambição, que as pessoas têm de enriquecer para ser feliz.
Quanto mais preciso enriquecer for - veja que isso é diferente de ganhar dinheiro como consequência do trabalho e não como causa - mais pobre nas relações humanas essa pessoa será. Eis, na minha opinião o gérmen da insustentabilidade do capitalismo.
Abrs
RR
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