quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sobre banhos quentes, papel higiênico e copos descartáveis

Não é raro ouvir por aí que, para justificar a impossibilidade do consumo sustentável "emplacar" como política pública, ninguém vai querer tomar banho frio. Aliás, o que tenho percebido no receio de muita gente é justamente quantos e que confortos com os quais nos acostumamos e, é claro, deles não queremos abrir mão, terão de ser excluídos em favor da sustentabilidade ambiental.

Penso que não seja exatamente este o caso.

Em primeiro lugar porque pensar em sustentabilidade tem a ver com REDUÇÃO, REUSO e, por fim, RECICLAGEM, ou seja, a pedagogia dos 3Rs. Banho quente, especialmente nas regiões mais frias, não tem como ser eliminado. Não é luxo, é necessidade, não só pelo conforto que minimamente toda pessoa deve poder desfrutar diante de tantos benefícios que são providos pelo mundo moderno, mas também pelo aspecto da saúde pública, já que a exposição ao frio favorece significativamente o desenvolvimento de doenças. Contudo, se excluir não é possível, é possível, nestes casos, reduzir. Apenas para exemplificar, há na internet diversos textos indicando como a redução de alguns minutos no banho pode impactar positivamente o consumo de água e energia elétrica, mostrando que, se cada um fizer um pouco, todos ganham muito.

Por outro lado, por que teríamos de começar a mudar nossos hábitos de consumo justamente pelos itens imprescindíveis? Por que não podemos nos livrar, em primeiro lugar, daquelas práticas que são absolutamente dispensáveis, algumas até bem inúteis? Por que não excluir (ou apenas utilizar em situações absolutamente necessárias) os copos descartáveis? Por que usar saquinhos plásticos individuais para embalar os talheres, como ocorre em alguns restaurantes? Por que o cereal tem que ser embalado duas vezes, na caixa de papelão e no saco plástico? Para que o feirante coloca suas frutas no saquinho e depois numa sacolinha?

Ainda não sabemos o que é, com total convicção, uma sociedade sustentável. Há muita gente laborando nisso, dedicando-se com afinco para conseguir entender o que e em que medida é preciso mudar em nossos hábitos e práticas de consumo para se chegar a esse estágio. Mas ainda que a resposta a isso ainda não exista - se é que um dia, haverá uma resposta categórica para essa questão - isso não significa que possamos ficar de braços cruzados, inertes, esperando a crise se instalar ou que devamos nos privar de todos os benefícios que a engenhosidade humana produziu nos últimos séculos e voltar ao tempo da luz de velas ou caçar e colher na mata. Há uma enorme margem entre um extremo e o outro, onde, com um pouco de criatividade e cautela medida, podemos modificar nosso comportamento de modo a, se não beneficiar, ao menos não agravar a pressão sobre recursos naturais.

Observar as ações corriqueiras, procurar inovar no modo de fazer o dia-a-dia, questionar o porquê de as coisas serem como são. Essas parecem ser as bases da transformação, o pressuposto fundamental da política dos 3Rs. É o que garantirá o meu, o seu e o banho quente de muita gente que ainda não o tem.

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