Agora a moda é ecobag: já viu quanta gente tem usado? E quantos estabelecimentos têm oferecido a sua, como brinde ou bem baratinho? E outras nem tão baratinho assim?
Eu mesma tenho as minhas: uma legítima, feita de saco de farinha com alças de retalho de tecido emborrachado; e outra, mais bonitinha, mas nem tão eco, feita de tecido cru, novo, estampadinha com umas palavrinhas de ordem ecologicamente corretas. Seja como for, estão me ajudando a evitar os tais saquinhos plásticos, o que já é uma vitória.
Mas essa mudança no meu comportamento me levou um questionamento básico: ok, muita gente mudou a sacola, mas, e o que vai dentro dela?
Se você não parou para pensar se há possibilidade de mudar também o que vai dentro dela - e não me refiro apenas à substituição dos produtos convencionais pelos ecologicamente corretos, mas também da quantidade de coisas que compramos e que não precisamos ou que tem pouca serventia no nosso dia-a-dia - espero que este post seja capaz de fomentar uma reflexão sobre essa mudança de atitude.
Mas se você já parou para pensar nisso e descobriu que, apesar do seu esforço em reduzir seu consumo ao que realmente é necessário (não confunda isso com essencial, que é outra coisa), há uma parte do esforço em prol da sustentabilidade que vai além do seu esforço individual, ótimo! É sobre isso que gostaria de falar um pouco neste post.
De uns anos para cá tem crescido vertiginosamente o marketing verde: as ecobags são fruto dessa nova tendência de mercado, assim como o são os carros flex, o papel sulfite reciclado, o filtro de papel do cafezinho, a adoção de canequinhas de plástico ou alumínio, as roupas feitas de PET, as sacolas oxibiodegradáveis, produtos orgânicos, só para citar alguns exemplos bem corriqueiros. Com o surgimento dessas opções, parecem se ampliar as possibilidades de nossas escolhas de consumo serem, senão favoráveis, pelo menos não prejudiciais ao meio ambiente.
No entanto, um primeiro problema que surge é: nem sempre esta substituição ocorre sem afetar o bolso do consumidor; muito pelo contrário, é comum que o produto "ecologicamente correto" seja mais caro, o que induvidosamente acaba comprometendo a adesão dos consumidores ao novo produto, atraindo apenas uma minoria engajada com a questão ambiental.
Uma segunda dificuldade diz respeito a detectar o caráter "sustentável" do produto que se está comprando. Por exemplo, será melhor usar uma xícara de faiança ou copos de plástico? Se você acha que é o primeiro, de acordo com a reportagem de Ana Luiza Moulatlet na edição especial de Caros Amigos n. 34, ano XI, de setembro de 2007, p. 29, errou: a xícara de faiança, apesar de ser reutilizável, consumiria mais carbono no transporte devido à necessidade de se utilizar embalagens mais resistentes devido ao seu peso e fragilidade; graças a essa característica, é mais difícil de ser empilhada, o que acaba fazendo ocupar mais espaço no transporte, levando a um consumo maior de combustível. E, por fim, para que o uso da xícara fosse mais vantajoso seria necessário ser lavada pelo menos 1800 vezes. Enfim, em se tratando de sustentabilidade, nem sempre o que parece ser, de fato é.
Terceiro aspecto que compromete o valor e o peso das ações dos consumidores é a existência de um aparato tecnológico disponível para reciclar tudo o que vier a existir no momento pós-consumo que for possível reciclar. Há coleta seletiva no seu bairro? Se sim, para onde levam os resíduos que foram separados? Quais desses materiais acabam não encontrando destinação na cadeia da reciclagem e para onde vão?
Ainda nessa linha do aspecto tecnológico, o processo de reciclagem de alguns produtos eventualmente superam o consumo de carbono da produção de um novo produto, o que torna a reciclagem um mau negócio para a natureza.
Finalmente, uma quinta questão é destinação dos resíduos de pequeno ou nenhum valor mercadológico. Alumínio, estamos cansado de saber, tem mercado certo no Brasil e no mundo. Mas, será que todo tipo de plástico tem o mesmo fim?
O cenário é, sem dúvida, complicado, confuso, incerto e até, de certa forma, desanimador. Afinal, nesse estado de coisas, não há como não se perguntar se o esforço que os chamados consumidores conscientes estão empreendendo realmente terá impacto positivo sobre a qualidade ambiental... E pior: se não estiver surtindo nenhum efeito, que possibilidades existem?
Por esses motivos, quando falamos de sustentabilidade no consumo, não há como restringir a ação do consumidor a apenas substituir, reduzir ou reutilizar produtos convencionais por produtos verdes. Essa é a lição de casa que nossa geração e as futuras precisarão diariamente fazer, incorporando esses hábitos ao dia-a-dia, tal qual escovar os dentes ou tomar banho.
Contudo, isso é apenas parte, no aspecto individual, do temos de fazer. No plano do coletivo, desde reivindicar das empresas uma produção mais limpa do ponto de vista ambiental e a responsabilidade pelos resíduos do pós-consumo, até exigir do Poder Público a implementação de políticas sérias de controle ambiental e cobrar resultados efetivos, assumir uma postura ativa como cidadão - no sentido de sujeito com direito a ter e reivindicar direitos - é condição sine qua non para se debelar a crise ambiental.
Portanto, mais do que mudar hábitos de consumo, é necessária uma mudança de atitude, reconstruindo não só as relações com os objetos materiais, mas, principalmente, repensando as formas como nos relacionamos socialmente, praticando outro tipo de socialidade, outro modo de vida.
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