sexta-feira, 13 de março de 2009

Um ano de "Consumo & Sustentabilidade"

Pela ordem: em primeiro lugar, lembrar que amanhã o blog completará o seu primeiro ano. Embora o número de postagens esteja inferior ao que eu gostaria, com certeza não é por falta de assunto, mas por absoluta falta de tempo para escrever. Fica aqui a minha promessa (mais uma)para remediar essa falta!

Em segundo, lembrar que depois de amanhã será o dia mundial do consumidor e, para comemorar antecipadamente o "nosso" dia - afinal, todos nós somos consumidores, efetivos ou potenciais -, gostaria de aproveitar aoportunidade para fazer uma rápida reflexão sobre nossas responsabilidades, enquanto consumidores, no desafio da sustentabilidade. Mais precisamente, gostaria de pensar um pouco sobre a liberdade de escolha, que é um dos direitos básicos do consumidor e, para isso, começo perguntando: seremos nós realmente livres para consumir? Será que essa liberdade, na forma como hoje é concebida institucionalmente, é capaz de nos fazer participar efetivamente das mudanças nos padrões de consumo?

Primeiro, sobre a nossa liberdade de consumir, aqui entendida como a possibilidade de determinar o que, quanto, onde, porquê e se se quer consumir, já tive oportunidade de falar um pouco em outros posts. É perceptível que a liberdade de escolha cada vez mais cede espaço às forças descomunais das imposições do mercado, e o boicote, apesar de ser uma estratégia válida, é também uma estratégia que se ressente diante dessas tais forças, que não cansam de exibir o seu poder de controle crescente sobre a vida dos indivíduos; basta ver a proliferação de produtos e componentes de produtos de origem chinesa; a prática de preços semelhantes, quando não iguais, das grandes empresas de comércio; o uso da publicidade, especialmente entre crianças e adolescentes, apenas para citar exemplos óbvios. Por conta disso, ou seja, dessa diminuição da força da liberdade comoinstrumento de controle social, é evidente que fica difícil sustentar que haja possibilidades de se encampar uma efetiva mudança em direção à sustentabilidade ambiental apenas contando com a mudança dos nossos padrões de consumo, seja pela redução nas parcelas mais abastadas, seja por seu aumento nas camadas mais carentes da sociedade.

Em segundo, penso que oferecer ampla liberdade - ainda que, conforme dito, restrita em certo sentido - sem qualquer contrapartida em termos de responsabilidade daquele que a exerce, é uma completa temeridade. Quando se fala em liberdade de escolha ao consumidor, quando se pensa num arcabouço jurídico que, a pretexto de parear forças do hipossuficiente (consumidor)com o hiperssuficiente (produtor), outorga àquele vários instrumentos dedefesa de seus interesses, parece-me que isso não deva implicar, necessariamente, a inexistência ou a relegação a plano secundário das suas responsabilidades. Em outras palavras, o consumidor é o elo fraco na relação de consumo, é a "vítima" do sistema, a "presa" do mercado, mas nem por isso, isento de deveres. A questão ambiental, especialmente com o argumento do "consumidor consciente", traz à tona a necessidade de se rever o atual paradigma deconsumidor: trata-se de uma figura que deve, sim, continuar a receber tutela estatal e ser protegido pelas instituições, mas, por outro lado, também deve se submeter a obrigações que são inerentes ao cidadão como responsável pela qualidade de vida, tanto da sua como das futuras gerações. Da mesma forma que o consumidor não é plenamente soberano no exercício desuas escolhas, também não é, certamente, um ser alheio ao que ocorre no seu ambiente e nas relações sociais que nele se travam.

Empregar bem os recursos de que dispõe, evitando o desperdício e oconsumismo; escolher bem o que se consome, preferindo produtos que causem menor impacto social e ambiental; participar ativamente da solução dos problemas que atingem a coletividade são apenas alguns dos mais evidentes deveres do novo consumidor. Repensar sua liberdade - e sua responsabilidade também! - é uma empreitada difícil, mas, sem dúvida, o primeiro passo em direção ao novo tipo de sociabilidade e de cidadania que a questão ambiental demanda.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A propósito do final de ano...

Ao contrário do que o título deste post possa sugerir, não pretendo comentar a necessidade de refletirmos sobre o quanto gastamos nesta época com almoços e jantares de confraternização ou as tantas quinquilharias que compramos nas lojas de R$ 1,99 a título de oferecer uma “lembrancinha” para os parentes e os colegas de trabalho, nem listar idéias de presentinhos artesanais que podem ser feitos com material reciclado ou sugerir itens de consumo ecologicamente corretos. Isso tudo foi dito ao longo do ano, ainda que talvez não tão exaustivamente quanto eu desejei que fosse. Minha intenção hoje é de lembrar outro aspecto que, na correria de providenciar as tais lembrancinhas e presentes, por vezes acabam esquecidos ou deixados para uma reflexão descompromissada de meio minuto antes de liberar o apetite nos fartos banquetes típicos dessas ocasiões: a razão e a importância das comemorações de natal e de ano novo.
Quando falamos em sustentabilidade ambiental e levamos o debate até as últimas conseqüências, o questionamento invariavelmente recai na necessidade de revermos o nosso processo civilizacional, nossa relação com a natureza e, principalmente, nossas relações com outros seres humanos. As possibilidades de se construir um mundo sustentável perpassam invariavelmente por questões de acesso e distribuição dos recursos ambientais para toda a humanidade, o que equivale dizer, a redução das desigualdades sociais, a erradicação da pobreza, a promoção da dignidade humana, e assim por diante.
O natal e o ano novo são eventos que deveriam propiciar, por sua natureza, um balanço sobre nossas atitudes em relação a esses objetivos: o natal porque, além de ser uma festividade religiosa, é também a comemoração, ainda que meramente convencional, do nascimento de uma personalidade marcante na história do mundo ocidental: Jesus Cristo, a quem se atribuem várias ações e ensinamentos sobre compaixão e solidariedade humana. E o ano novo porque, como o próprio nome diz e dispensa maiores explicações, é o dia da confraternização universal ou o dia mundial da paz.
Minha proposta para as festas de final de ano, portanto, além de evitar as lembrancinhas ou presentinhos (ou, se inevitáveis, que ao menos sejam úteis e, preferencialmente, duráveis e ecologicamente corretos), não exagerar na quantidade de comida ou bebida e evitar a encantadora, mas totalmente anti-ecológica chuva de papel picado no dia 31, é, curiosamente, dar sentido e praticar o que essas datas sugerem: refletir sobre a solidariedade e a compaixão, desejar um mundo menos violento e desigual, respeitar o próximo inteiramente. Se não pelo apelo religioso que essa sugestão possa ter, que seja, então, pela razão científica da sustentabilidade ambiental.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Retomando o blog numa reflexão para o dia 29 de novembro, o dia sem compras

Depois de meses sem escrever sequer uma linha - na verdade, iniciando vários posts, mas sem conseguir concluir nenhum por absoluta falta de tempo - aproveito a comemoração do "buy nothing day" para voltar a bloggear, ainda que num texto curto, rapidinho.


O "buy nothing day" ou "dia sem compras" é uma iniciativa da ONG canadense Adbusters (http://www.adbusters.org/), um evento que se repete anualmente desde 1993. A sua proposta é de passar um dia inteiro sem compras como protesto e forma de reflexão sobre o consumismo. Na América do Norte a data é comemorada hoje, mas nos demais países, amanhã, dia 29 de novembro.


A iniciativa é louvável. Afinal, os diversos problemas ambientais que enfrentamos estão relacionados, com maior ou menor mediatidade, ao consumo. No entanto, antes de pensarmos sobre nossos hábitos de consumo propriamente ditos, minha proposta para hoje é de assumir uma outra perspectiva, procurando refletir sobre quanto desses hábitos são determinados por nossas escolhas e gostos pessoais e quanto é influenciado por pressões externas do meio social, principalmente da publicidade e da lógica da produção. Será que ainda conseguimos divisar o que realmente é prazer ou gosto pessoal, e o que é uma mera resposta aos estímulos externos? Será que gostamos tanto assim da novidade, do inédito, do mais moderno ou simplesmente nos condicionamos a estar insatisfeitos, em constante estado de busca? Enfim, o desejo por consumir excessivamente é uma condição inata do ser humano, que aflora e cresce por si própria dentro de cada um, ou é um paroxismo da nossa organização social?


terça-feira, 1 de julho de 2008

Dicas de reciclagem do Akatu

Vejam este link: http://www.akatu.org.br/central/especiais/2008/sera-que-isso-vai-para-a-reciclagem.
Na minha casa eu sempre tive o hábito de separar o lixo e fiquei espantada com a quantidade de coisas que não serão/poderão ser recicladas, que irão para os aterros aguardar umas centenas de anos para voltar à terra... E tão ruim quanto isso é pensar que eu passei anos separando coisas que não teriam essa destinação, achando que estava fazendo bem ao meio ambiente...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Comendo com os olhos: a pressão do consumidor sobre a produção agrícola

Uma boa comida, diria algum gastrônomo, decididamente não precisa ser apenas nutritiva ou deliciosa, mas, também, bonita. Quem nunca comeu com os olhos as guloseimas cuidadosamente confeitadas, enfileiradas nas vitrines de alguma doceria? Ou sentiu a boca se encher de água ao ver (ou só pensar) num prato deliciosamente apresentado?

Essa seleção visual sobre alimentos se explica não só pelo instinto de sobrevivência, que nos garante apetite para variar os alimentos consumidos e para evitar os venenosos, mas também revela um componente cultural, onde os alimentos bonitos e perfeitos são associados à idéia de mais saudáveis, mais nutritivos, além de contarem com um melhor aproveitamento no seu preparo ou consumo. Por isso vemos muitas donas de casa, tão zelosas em suas compras, escolhendo cuidadosamente os alimentos por tamanho, cor, estado de maturação, frescor, peso etc. A combinação de critérios é enorme e, para quem não entende nada de cozinha, mais parece um exercício inútil, já que os cachos de banana parecem não diferir muito entre si, tampouco os tomates, as cenouras, as maçãs, que se empilham, iguaizinhas nos tabuleiros... Já o que foge desse padrão, o que está machucado, amassado, desfolhado, vai logo ficando para trás, para a chamada "hora da xepa" ou para o dia de oferta, em que são pechinchados e levados para casa bem mais baratinho.

No entanto, o que parece ser uma inocente atividade doméstica, um carinho e um cuidado especial com a saúde da família, guarda, por outro lado, um preocupante problema de ordem ambiental: a quantidade de alimentos que é desperdiçada para se selecionar aqueles alimentos tão perfeitos, cheirosos, reluzentes, fresquinhos e iguaizinhos. Se observarmos um pé de fruta ou uma horta, não será difícil perceber que os seus produtos não são idênticos: alguns nascem um disformes, outros têm uma tonalidade diferente ou manchas, uns têm buracos de bichinhos, alguns são maiores que outros ... Bem diferente do mundo homogêneo das barracas das feiras livres ou balcões do supermercado!

A ilusão custa caro: afinal, para se chegar a isso - a tamanha homogeneização - é preciso selecionar e produzir muito, agrupando por tamanho, por cor, por peso, por formato, para então vender por preços e para públicos distintos, e isso tudo, numa escala de produção tal que permita todo esse processo. É certo que os alimentos que não são qualificados como inadequados para o consumidor direto acabam servindo a outros fins, como a indústria de alimentos. Contudo, ainda assim, continuam a servir à mesma ilusão, na medida em que, embalados nas caixinhas tetrapak ou nas latinhas de conserva, lado a lado nas prateleiras dos supermercados, são perfeitamente iguais, no sabor, na cor, no tamanho, na quantidade.

Além disso, muito se argumenta (e eu nunca vi quem discordasse disso) que o problema da fome no mundo hoje é um problema de distribuição, não de produção de alimentos. Afirma-se que alguns poucos se refestelam no excesso e no desperdício, ao passo que a grande parte não acessa ou acessa parcialmente esses alimentos. Se não for repensada essa forma de apropriação e de distribuição da comida, o que será de nós daqui uma década, quando se projeta que a população mundial será de aproximadamente 10 bilhões de pessoas? Será possível prosseguir nessas práticas?

Esse, me parece, é o árduo desafio do consumo sustentável: o despertar do sonho da infinitude dos recursos naturais e do absoluto controle da natureza e seus processos. O reconhecer da imprescindibilidade de se rever padrões e hábitos de consumo. O estabelecer de uma nova postura crítica e ativa diante da realidade. O partilhar como condição para a qualidade de vida. O repensar e o refazer da nossa formação cultural. E, quiçá, a emergência de uma nova sociedade, uma nova civilização...




sábado, 14 de junho de 2008

IV Encontro Nacional de Estudos do Consumo - chamada para apresentação de trabalhos

Segue o edital do IV ENEC, que está sendo organizado pela Profa. Fátima Portilho, professora da Universidade Federal Rural do RJ. O prazo para apresentação dos resumos foi ampliado para até 22.06.2008.

IV ENEC - Encontro Nacional de Estudos do Consumo
Novos Rumos da Sociedade de Consumo?
24, 25 e 26 de setembro de 2008

Auditório BNDES (Av. Chile, 100/Subsolo)Centro - Rio de Janeiro/RJ

CHAMADA PARA TRABALHOS 2008

APRESENTAÇÃO
O IV ENEC tem como proposta discutir como certas transformações das sociedades contemporâneas estão relacionadas ao consumo, e como isto nos leva a repensar muitas das características tradicionalmente atribuídas à sociedade de consumo, como individualismo, insaciabilidade e superficialidade. Atualmente, o consumo vem deixando de ser visto apenas como forma de reprodução e mediação das estruturas sociais reinantes, e de busca por identidade e status, para tornar-se também, cada vez mais, um instrumento e uma estratégia de ação política, incorporando valores como solidariedade e responsabilidade socioambiental.Novas ideologias, movimentos e estratégias sociais voltadas para um consumo responsável, consciente, ético ou sustentável - tais como indicação geográfica, comércio justo, economia solidária e slow food - têm valorizado características como territorialidade, cuidados com o meio ambiente, ou sistemas de produção "tradicionais". Estas características adicionam valor aos produtos e se configuram como materialização das transformações em curso. Considerando tais reconfigurações, verifica-se que o consumo levanta uma nova gama de questões polêmicas que demandam teorização, tais como privatização da política, politização do consumo, mercantilização das relações de produção, percepção de risco, sistemas de certificação e confiança. Assim, a principal questão deste IV ENEC é: o consumo, acusado por muitos como principal responsável pelas atuais condições de anomia, individualidade e despolitização das sociedades, poderá ser, ele mesmo, a solução para os problemas que supostamente gerou ? E, neste caso, é pertinente se falar em uma "Nova Sociedade de Consumo" ?

ENVIO DE TRABALHOS
Pesquisadores e estudantes de pós-graduação podem enviar propostas de trabalho, através de resumos expandidos que serão analisados pelo Comitê Científico.Os trabalhos selecionados serão organizados em GTs a partir da proximidade temática. Orientamos que as propostas estejam em consonância com o tema proposto para este ENEC e com os temas trabalhados pelo Grupo de Pesquisa nos últimos anos.

PRAZO PARA ENVIO DE RESUMOS:
15 DE JUNHO DE 2008
Enviar arquivo eletrônico com o resumo expandido no formato DOC, com no mínimo 3.000 caracteres e no máximo 4.000 caracteres (com espaços), até a data limite, para o endereço eletrônico enec2008@gmail.com.
Cada proposta deverá conter, na parte superior da página (cabeçalho), as seguintes informações: título do trabalho; nome, titulação, filiação institucional e contatos (endereço completo, telefone, e-mail) do primeiro autor; nome, titulação e filiação institucional do segundo autor.
Divulgação dos artigos aceitos: 06/julho/2008
Envio de artigo completo: 10/setembro/2008
Enviar arquivo com o artigo até a data limite, com título do trabalho e a identificação dos autores (nome, titulação, filiação institucional e contatos) para o endereço eletrônico enec2008@gmail.com.
Formatação do Artigo: Fonte Times New Roman; tamanho 12; espaço 1,5cm; margens superior e esquerda iguais a 3,0 cm, margens inferior e direita iguais a 2,0 cm; tamanho máximo de 25 páginas (incluindo gráficos, tabelas e bibliografia), em formato DOC ou RTF.
OBS: A Comissão Organizadora não fornecerá recursos financeiros para transporte e hospedagem dos autores.

INSCRIÇÕES
R$ 120,00 para profissionais
R$ 60,00 para estudantes de graduação e pós-graduação
Favor depositar a taxa de inscrição na conta bancária, de acordo com os dados abaixo. O comprovante deverá ser apresentado no dia do evento para confirmar inscrição.
Banco do Brasil - 01
Agência: 2861-4
Conta Corrente: 13627-1
Em nome de Maria de Fátima Ferreira Portilho (CPF 000.258.917-66)

INSTITUIÇÕES PROMOTORAS
Grupo de Pesquisa Sociedades e Culturas de Consumo
Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM
CAEPM - Centro de Altos Estudos em Propaganda e Marketing da ESPM
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
CDDA - Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade(UFRRJ)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
PPGA - Programa de Pós-Graduação em Antropologia daNEMO - Núcleo de Estudos da Modernidade
APOIO
CAPES
BNDES
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior