segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A propósito do final de ano...

Ao contrário do que o título deste post possa sugerir, não pretendo comentar a necessidade de refletirmos sobre o quanto gastamos nesta época com almoços e jantares de confraternização ou as tantas quinquilharias que compramos nas lojas de R$ 1,99 a título de oferecer uma “lembrancinha” para os parentes e os colegas de trabalho, nem listar idéias de presentinhos artesanais que podem ser feitos com material reciclado ou sugerir itens de consumo ecologicamente corretos. Isso tudo foi dito ao longo do ano, ainda que talvez não tão exaustivamente quanto eu desejei que fosse. Minha intenção hoje é de lembrar outro aspecto que, na correria de providenciar as tais lembrancinhas e presentes, por vezes acabam esquecidos ou deixados para uma reflexão descompromissada de meio minuto antes de liberar o apetite nos fartos banquetes típicos dessas ocasiões: a razão e a importância das comemorações de natal e de ano novo.
Quando falamos em sustentabilidade ambiental e levamos o debate até as últimas conseqüências, o questionamento invariavelmente recai na necessidade de revermos o nosso processo civilizacional, nossa relação com a natureza e, principalmente, nossas relações com outros seres humanos. As possibilidades de se construir um mundo sustentável perpassam invariavelmente por questões de acesso e distribuição dos recursos ambientais para toda a humanidade, o que equivale dizer, a redução das desigualdades sociais, a erradicação da pobreza, a promoção da dignidade humana, e assim por diante.
O natal e o ano novo são eventos que deveriam propiciar, por sua natureza, um balanço sobre nossas atitudes em relação a esses objetivos: o natal porque, além de ser uma festividade religiosa, é também a comemoração, ainda que meramente convencional, do nascimento de uma personalidade marcante na história do mundo ocidental: Jesus Cristo, a quem se atribuem várias ações e ensinamentos sobre compaixão e solidariedade humana. E o ano novo porque, como o próprio nome diz e dispensa maiores explicações, é o dia da confraternização universal ou o dia mundial da paz.
Minha proposta para as festas de final de ano, portanto, além de evitar as lembrancinhas ou presentinhos (ou, se inevitáveis, que ao menos sejam úteis e, preferencialmente, duráveis e ecologicamente corretos), não exagerar na quantidade de comida ou bebida e evitar a encantadora, mas totalmente anti-ecológica chuva de papel picado no dia 31, é, curiosamente, dar sentido e praticar o que essas datas sugerem: refletir sobre a solidariedade e a compaixão, desejar um mundo menos violento e desigual, respeitar o próximo inteiramente. Se não pelo apelo religioso que essa sugestão possa ter, que seja, então, pela razão científica da sustentabilidade ambiental.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Retomando o blog numa reflexão para o dia 29 de novembro, o dia sem compras

Depois de meses sem escrever sequer uma linha - na verdade, iniciando vários posts, mas sem conseguir concluir nenhum por absoluta falta de tempo - aproveito a comemoração do "buy nothing day" para voltar a bloggear, ainda que num texto curto, rapidinho.


O "buy nothing day" ou "dia sem compras" é uma iniciativa da ONG canadense Adbusters (http://www.adbusters.org/), um evento que se repete anualmente desde 1993. A sua proposta é de passar um dia inteiro sem compras como protesto e forma de reflexão sobre o consumismo. Na América do Norte a data é comemorada hoje, mas nos demais países, amanhã, dia 29 de novembro.


A iniciativa é louvável. Afinal, os diversos problemas ambientais que enfrentamos estão relacionados, com maior ou menor mediatidade, ao consumo. No entanto, antes de pensarmos sobre nossos hábitos de consumo propriamente ditos, minha proposta para hoje é de assumir uma outra perspectiva, procurando refletir sobre quanto desses hábitos são determinados por nossas escolhas e gostos pessoais e quanto é influenciado por pressões externas do meio social, principalmente da publicidade e da lógica da produção. Será que ainda conseguimos divisar o que realmente é prazer ou gosto pessoal, e o que é uma mera resposta aos estímulos externos? Será que gostamos tanto assim da novidade, do inédito, do mais moderno ou simplesmente nos condicionamos a estar insatisfeitos, em constante estado de busca? Enfim, o desejo por consumir excessivamente é uma condição inata do ser humano, que aflora e cresce por si própria dentro de cada um, ou é um paroxismo da nossa organização social?


terça-feira, 1 de julho de 2008

Dicas de reciclagem do Akatu

Vejam este link: http://www.akatu.org.br/central/especiais/2008/sera-que-isso-vai-para-a-reciclagem.
Na minha casa eu sempre tive o hábito de separar o lixo e fiquei espantada com a quantidade de coisas que não serão/poderão ser recicladas, que irão para os aterros aguardar umas centenas de anos para voltar à terra... E tão ruim quanto isso é pensar que eu passei anos separando coisas que não teriam essa destinação, achando que estava fazendo bem ao meio ambiente...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Comendo com os olhos: a pressão do consumidor sobre a produção agrícola

Uma boa comida, diria algum gastrônomo, decididamente não precisa ser apenas nutritiva ou deliciosa, mas, também, bonita. Quem nunca comeu com os olhos as guloseimas cuidadosamente confeitadas, enfileiradas nas vitrines de alguma doceria? Ou sentiu a boca se encher de água ao ver (ou só pensar) num prato deliciosamente apresentado?

Essa seleção visual sobre alimentos se explica não só pelo instinto de sobrevivência, que nos garante apetite para variar os alimentos consumidos e para evitar os venenosos, mas também revela um componente cultural, onde os alimentos bonitos e perfeitos são associados à idéia de mais saudáveis, mais nutritivos, além de contarem com um melhor aproveitamento no seu preparo ou consumo. Por isso vemos muitas donas de casa, tão zelosas em suas compras, escolhendo cuidadosamente os alimentos por tamanho, cor, estado de maturação, frescor, peso etc. A combinação de critérios é enorme e, para quem não entende nada de cozinha, mais parece um exercício inútil, já que os cachos de banana parecem não diferir muito entre si, tampouco os tomates, as cenouras, as maçãs, que se empilham, iguaizinhas nos tabuleiros... Já o que foge desse padrão, o que está machucado, amassado, desfolhado, vai logo ficando para trás, para a chamada "hora da xepa" ou para o dia de oferta, em que são pechinchados e levados para casa bem mais baratinho.

No entanto, o que parece ser uma inocente atividade doméstica, um carinho e um cuidado especial com a saúde da família, guarda, por outro lado, um preocupante problema de ordem ambiental: a quantidade de alimentos que é desperdiçada para se selecionar aqueles alimentos tão perfeitos, cheirosos, reluzentes, fresquinhos e iguaizinhos. Se observarmos um pé de fruta ou uma horta, não será difícil perceber que os seus produtos não são idênticos: alguns nascem um disformes, outros têm uma tonalidade diferente ou manchas, uns têm buracos de bichinhos, alguns são maiores que outros ... Bem diferente do mundo homogêneo das barracas das feiras livres ou balcões do supermercado!

A ilusão custa caro: afinal, para se chegar a isso - a tamanha homogeneização - é preciso selecionar e produzir muito, agrupando por tamanho, por cor, por peso, por formato, para então vender por preços e para públicos distintos, e isso tudo, numa escala de produção tal que permita todo esse processo. É certo que os alimentos que não são qualificados como inadequados para o consumidor direto acabam servindo a outros fins, como a indústria de alimentos. Contudo, ainda assim, continuam a servir à mesma ilusão, na medida em que, embalados nas caixinhas tetrapak ou nas latinhas de conserva, lado a lado nas prateleiras dos supermercados, são perfeitamente iguais, no sabor, na cor, no tamanho, na quantidade.

Além disso, muito se argumenta (e eu nunca vi quem discordasse disso) que o problema da fome no mundo hoje é um problema de distribuição, não de produção de alimentos. Afirma-se que alguns poucos se refestelam no excesso e no desperdício, ao passo que a grande parte não acessa ou acessa parcialmente esses alimentos. Se não for repensada essa forma de apropriação e de distribuição da comida, o que será de nós daqui uma década, quando se projeta que a população mundial será de aproximadamente 10 bilhões de pessoas? Será possível prosseguir nessas práticas?

Esse, me parece, é o árduo desafio do consumo sustentável: o despertar do sonho da infinitude dos recursos naturais e do absoluto controle da natureza e seus processos. O reconhecer da imprescindibilidade de se rever padrões e hábitos de consumo. O estabelecer de uma nova postura crítica e ativa diante da realidade. O partilhar como condição para a qualidade de vida. O repensar e o refazer da nossa formação cultural. E, quiçá, a emergência de uma nova sociedade, uma nova civilização...




sábado, 14 de junho de 2008

IV Encontro Nacional de Estudos do Consumo - chamada para apresentação de trabalhos

Segue o edital do IV ENEC, que está sendo organizado pela Profa. Fátima Portilho, professora da Universidade Federal Rural do RJ. O prazo para apresentação dos resumos foi ampliado para até 22.06.2008.

IV ENEC - Encontro Nacional de Estudos do Consumo
Novos Rumos da Sociedade de Consumo?
24, 25 e 26 de setembro de 2008

Auditório BNDES (Av. Chile, 100/Subsolo)Centro - Rio de Janeiro/RJ

CHAMADA PARA TRABALHOS 2008

APRESENTAÇÃO
O IV ENEC tem como proposta discutir como certas transformações das sociedades contemporâneas estão relacionadas ao consumo, e como isto nos leva a repensar muitas das características tradicionalmente atribuídas à sociedade de consumo, como individualismo, insaciabilidade e superficialidade. Atualmente, o consumo vem deixando de ser visto apenas como forma de reprodução e mediação das estruturas sociais reinantes, e de busca por identidade e status, para tornar-se também, cada vez mais, um instrumento e uma estratégia de ação política, incorporando valores como solidariedade e responsabilidade socioambiental.Novas ideologias, movimentos e estratégias sociais voltadas para um consumo responsável, consciente, ético ou sustentável - tais como indicação geográfica, comércio justo, economia solidária e slow food - têm valorizado características como territorialidade, cuidados com o meio ambiente, ou sistemas de produção "tradicionais". Estas características adicionam valor aos produtos e se configuram como materialização das transformações em curso. Considerando tais reconfigurações, verifica-se que o consumo levanta uma nova gama de questões polêmicas que demandam teorização, tais como privatização da política, politização do consumo, mercantilização das relações de produção, percepção de risco, sistemas de certificação e confiança. Assim, a principal questão deste IV ENEC é: o consumo, acusado por muitos como principal responsável pelas atuais condições de anomia, individualidade e despolitização das sociedades, poderá ser, ele mesmo, a solução para os problemas que supostamente gerou ? E, neste caso, é pertinente se falar em uma "Nova Sociedade de Consumo" ?

ENVIO DE TRABALHOS
Pesquisadores e estudantes de pós-graduação podem enviar propostas de trabalho, através de resumos expandidos que serão analisados pelo Comitê Científico.Os trabalhos selecionados serão organizados em GTs a partir da proximidade temática. Orientamos que as propostas estejam em consonância com o tema proposto para este ENEC e com os temas trabalhados pelo Grupo de Pesquisa nos últimos anos.

PRAZO PARA ENVIO DE RESUMOS:
15 DE JUNHO DE 2008
Enviar arquivo eletrônico com o resumo expandido no formato DOC, com no mínimo 3.000 caracteres e no máximo 4.000 caracteres (com espaços), até a data limite, para o endereço eletrônico enec2008@gmail.com.
Cada proposta deverá conter, na parte superior da página (cabeçalho), as seguintes informações: título do trabalho; nome, titulação, filiação institucional e contatos (endereço completo, telefone, e-mail) do primeiro autor; nome, titulação e filiação institucional do segundo autor.
Divulgação dos artigos aceitos: 06/julho/2008
Envio de artigo completo: 10/setembro/2008
Enviar arquivo com o artigo até a data limite, com título do trabalho e a identificação dos autores (nome, titulação, filiação institucional e contatos) para o endereço eletrônico enec2008@gmail.com.
Formatação do Artigo: Fonte Times New Roman; tamanho 12; espaço 1,5cm; margens superior e esquerda iguais a 3,0 cm, margens inferior e direita iguais a 2,0 cm; tamanho máximo de 25 páginas (incluindo gráficos, tabelas e bibliografia), em formato DOC ou RTF.
OBS: A Comissão Organizadora não fornecerá recursos financeiros para transporte e hospedagem dos autores.

INSCRIÇÕES
R$ 120,00 para profissionais
R$ 60,00 para estudantes de graduação e pós-graduação
Favor depositar a taxa de inscrição na conta bancária, de acordo com os dados abaixo. O comprovante deverá ser apresentado no dia do evento para confirmar inscrição.
Banco do Brasil - 01
Agência: 2861-4
Conta Corrente: 13627-1
Em nome de Maria de Fátima Ferreira Portilho (CPF 000.258.917-66)

INSTITUIÇÕES PROMOTORAS
Grupo de Pesquisa Sociedades e Culturas de Consumo
Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM
CAEPM - Centro de Altos Estudos em Propaganda e Marketing da ESPM
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
CDDA - Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade(UFRRJ)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
PPGA - Programa de Pós-Graduação em Antropologia daNEMO - Núcleo de Estudos da Modernidade
APOIO
CAPES
BNDES
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O consumo verde e o risco de elitização do ecológico

Uma coisa que tem me preocupado um pouco é o crescente apelo ao consumo verde – aqui entendido como consumo de bens produzidos com menor impacto ambiental – como uma suposta solução aos problemas ambientais. É claro que precisamos, com absoluta urgência, criar hábitos de consumir produtos menos impactantes para a natureza e para a nossa saúde. Disso, aliás, as pessoas parecem estar cada vez mais conscientes, dispondo-se, inclusive a pagar um pouco mais por itens de consumo orgânicos e certificados. No entanto, será que esta é uma estratégia eficaz para a incorporação das questões ambientais nos hábitos de consumo?

A mim particularmente parecem ser necessárias algumas reflexões antes de oferecer alguma resposta a essa pergunta.

Em primeiro lugar, lembrando que a mera substituição de produtos do nosso consumo por outros menos impactantes, não leva necessariamente à reflexão sobre os níveis do nosso consumo. Quando se fala em três ou cinco planetas Terra para suprir a necessidade de consumo de toda a população mundial, considerando como referência o padrão de consumo dos países desenvolvidos, fica difícil limitar nossa reflexão apenas ao que consumimos e não expandi-la a um questionamento sobre o quanto consumimos, sob pena de construir um pensamento limitado e parcial do problema. Distribuir melhor os recursos, num sistema fechado e finito como o nosso, é fundamental para a almejada sustentabilidade.

Por outro lado, considerando que os produtos ecologicamente corretos são mais caros, seja porque a produção é mais custosa, seja porque apenas se agrega ao produto o caráter “verde”, não é difícil deduzir que, em tais circunstâncias, as preocupações com o meio ambiente ficarão por conta ou daqueles que podem pagar mais por esses produtos, ou à custa dos consumidores mais conscientes que, apesar de pagar mais caro, acreditam no valor do seu sacrifício. De qualquer forma, todavia, a responsabilidade acaba sendo depositada nos ombros de uma minoria.

No entanto, a oferta de produtos orgânicos e certificados, com identificação e destaque do aspecto ecologicamente correto, ainda que como diferencial competitivo entre produtos, pode ser um meio bastante eficiente para se levar a questão ambiental para o cotidiano dos consumidores, fomentando, ainda que de forma gradativa, a abertura e ampliação das discussões sobre o meio ambiente no contexto das relações de consumo.

Falar em sustentabilidade, em cuidado com o planeta, não pode continuar sendo uma tarefa para uma pequena fração esclarecida da sociedade. Por isso, minha preocupação com essa possível “elitização” do ecológico: de um lado porque, enquanto prática restrita a um grupo minoritário na sociedade, não será capaz de alcançar significativos impactos na qualidade ambiental; de outro porque pagar mais caro pode alimentar nesses consumidores a equivocada noção de que se já pagou para que outros resolvam o problema ambiental do produto que está consumindo, não precisará mais se preocupar em modificar seus hábitos.

Além disso, muitos produtos que estão pelas prateleiras dos supermercados e dos shoppings mundo afora e que se dizem “100% natural”, “totalmente ecológico” ou que “faz bem para a natureza”, nem sempre advém de um processo produtivo limpo ou são, de fato, menos impactantes, o que acaba lesando tanto o consumidor como o meio ambiente. Mas isso é assunto para um outro post...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

PET reciclado para embalar alimentos

Fiquei bastante preocupada com essa resolução Anvisa. Vejam:

http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=30225&word=PET%20reciclado#

Está um pouco difícil de ler por problemas e erros de digitação/editoração do texto, mas com um pouco de esforço é possível entender. O item 2.7 se refere a um processo de descontaminação "que tenha sido demonstrada submentendo-a a um procedimento de validação normalizado e (...) que pode ser ser utilizado na elaboração de embalagens em contato direto com os alimentos". Alguém (da engenharia química ou de alimentos) saberia dizer que processo é esse e se realmente é seguro?

Minha preocupação como leiga no assunto é: uma PET pode ter sido usada para alimento somente, mas essa mesma PET pode ter sido reusada, por exemplo, para transportar produtos químicos tóxicos. Será que esse processo a que se refere a Anvisa realmente descontamina o produto? Ou, antes: há processos seguros de descontaminação desses materiais, seguros o suficiente para permitir o uso em contato direto com alimentos?

Não precisamos ser alarmistas e nos posicionar contra apenas porque se trata de um produto cuja origem causa uma imediata má impressão (usar "lixo" para fazer embalagem de comida?! Argh!!!). Mas uma dose de desconfiança e acompanhar as autorizações da Anvisa pode não ser canja de galinha, mas também não faz mal a ninguém...

Vamos ficar atentos!!!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Ainda sobre as sacolas do supermercado...

Leiam este texto.
Querem se sentir do outro planeta? Tentem explicar ao empacotador que não se quer saco plástico: os do supermercado onde eu vou regularmente até hoje insistem em colocar na sacolinha e quando eu peço as caixas de papelão, fazem aquela mesma cara, meio de surpresa, meio de estranhamento... Vai entender!

http://www.inovacao.usp.br/usp_recicla/Boicote%20ao%20saco.pdf

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A eterna (in)satisfação de ser consumidor

Há um consenso mais ou menos geral de que vivemos um tempo de crise nas relações humanas. Ao mesmo tempo em que aceitamos mais a diversidade, seja ela cultural, racial, religiosa, sexual, etc., paradoxalmente não temos nos tolerado muito no trânsito, no metrô, no condomínio... Há uma queixa geral da sociedade que estamos cada vez mais individualistas, egoístas, competitivos, solitários, num clima de muita desconfiança em relação ao outro.
Nesse ambiente, em que cada vez mais o círculo de amigos e de convivência se restringe, as nossas necessidades - que antes eram supridas pelo grupo social - começam a ser satisfeitas por outras vias, ou melhor, por outra via: a do consumo. Se eu tenho o MEU carro, torno-me autônomo para sair da festa ou da aula a hora que quiser, em vez de ficar esperando a carona do meu colega; se tenho MEU livro, estudo para a prova no momento que estiver disposto, sem precisar esperar por ninguém devolvê-lo ao acervo da biblioteca; se tenho a MINHA mala de viagem, não preciso pedir emprestado para o meu vizinho, caso surja uma inesperada viagem de trabalho, e assim por diante.
Uma das utilidades de se viver em grupo - quiçá a principal - é a de conquistar coisas que, sozinhos, seria impossível. Convivemos com nossos semelhantes e toleramos as suas falhas porque, fundamentalmente, precisamos com eles trocar e colaborar para nossa sobrevivência, para a sobrevivência da nossa espécie.
O consumo surge como uma possível fuga dessas relações: ao comprar podemos prescindir da relação com o outro, porque, ilusoriamente, passamos a não precisar dele para a satisfação das próprias necessidades. Quando saimos às compras, temos a falsa impressão de que aquele ato se pratica sem a concorrência de outras pessoas, como se os produtos e serviços postos à disposição do consumidor não fossem fruto do trabalho humano. O indivíduo supostamente se basta e pode se dar a liberdade de escolher com quem, como, quando e porque quer se relacionar.
No entanto, o consumo como via de escape é frustrante, fundamentalmente por três motivos: um porque sempre haverá mais o que consumir do que a nossa capacidade de adquirir ou de usufruir desses bens, quer pela infinidade e o crescente volume de objetos de consumo que são oferecidos no mercado, quer pela existência, permanente, de um patamar mais elevado de consumo a ser conquistado; outro porque homem é um ser essencialmente gregário, e sua natureza é avessa ao isolamento. E, por fim, como evidencia a questão ambiental, pela impossibilidade de se encontrar plena satisfação de todas as necessidades humanas através do consumo individual diante da escassez de recursos naturais para tanto.
São incoerências que, portanto, precisam ser repensadas. Se o consumo, como tem sido entendido e praticado, não é passagem garantida para a felicidade perfeita e incondicional, se não é capaz de estreitar e melhorar as nossas relações pessoais e em sociedade, tampouco capaz de solucionar as iniqüidades que assolam a humanidade, a quais interesses tem servido? Qual será a sua função?
Deixo essas reflexões para a semana, para o dia, para cada momento e... boas compras!

Ecologia Humana: Relações humanas

Navegando, acabei encontrando este post; vale a pena abrir, ler e refletir!

Ecologia Humana: Relações humanas

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Eu faço, tu fazes, ele faz... E, de repente, NÓS fazemos!

Não sei se na sua casa é assim, mas na minha era: ia ao supermercado para comprar um refri grande, um pãozinho, uma caixa de sabão em pó, e lá vinha um monte de sacolinhas! Duas para o refri, porque são tão fininhas que é preciso usar duas para agüentar o peso; uma para o sabão em pó, porque ele não pode ir junto com os alimentos; outra para o pãozinho, que está quentinho e não pode ser amassado ou esfriado pelo refrigerante. Total: quatro sacolas de plástico!
E quando fazia aquelas compras enormes, as chamadas "compras de mês"?!... Acabava sobrando, no mínimo, uma sacola cheia de sacolas...
Como jogá-las no lixo eu nunca consegui - me sinto uma perdulária fazendo isso -, ia guardando, e depois de lotar o puxa-saco da cozinha, socando-as em algum canto de armário.
Cansada disso, passei a usar caixas de papelão. Essas caixas, depois das compras, ou vão para o canto da lixeira do prédio, para que possam ser levadas por catadores de papelão, ou as envio para a escola do meu filho, onde as professoras as utilizam em atividades artísticas com as crianças. Sacola de supermercado tem sido usada apenas para embalar produtos que podem vazar, como água sanitária e amaciante e depois como saco de lixo.
Quanto plástico tenho deixado de lançar no meio ambiente com essa atitude? Quantas árvores estão sendo poupadas com o reuso dessas caixas de papelão? Certamente muito pouco ou, na linguagem dos físicos, em quantidade "desprezível". Mas não será desprezível se eu, você e tanta gente por aí também o fizer.
Não acredito que nós consumidores poderemos alavancar, sozinhos, as grandes mudanças que os problemas ambientais exigem. Há, com certeza, questões que não serão resolvidas apenas pelas atitudes conscientes que tomamos na esfera privada, mas, pelo contrário, exigem a mobilização da sociedade como um todo. Mas aquilo que depende da nossa ação individual não precisa esperar mais nada: ela pode se manifestar agora, a partir da nossa própria disposição e vontade de contribuir, ainda que humildemente, para a construção de um mundo cada vez melhor.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Made in USA (Brazil, France, Argentina...)? Não... Made in China!

Em matéria de consumo, uma reflexão que cada vez mais tem se tornado incontornável é a da relação entre os problemas ambientais e as (más) escolhas do consumidores. A proposta do consumo sustentável perpassa por esse aspecto, incitando os consumidores a pensar sobre as suas escolhas e fazê-las de modo consciente e com vistas à redução dos impactos ambientais do seu consumo.

Embora o discurso seja sedutor, é necessário olhar essa proposta com cautela. Certamente, o consumidor tem sua dose de responsabilidade em bem escolher o que consome. Mas, até que ponto pode, de fato, exercer o seu direito de escolha? Será que sempre é possível escolher o que se quer consumir, numa organização social em que apesar da enorme variedade e das inovações que são lançadas diariamente no mercado, os produtos se originam de um universo mais ou menos restrito de produtores e fornecedores?

É o que tem ocorrido, por exemplo, com a entrada pesada dos produtos chineses no mercado global. Nesse caso, praticamente não há escolha ao consumidor, pois, ou aceita comprar o chinês ou nada feito: vai ficar sem computador, sem celular, sem as lembrancinhas de Natal e até sem roupa para vestir! A recusa no consumo de produtos cuja origem seja chinesa é, nos dias de hoje, praticamente impossível, já que, mesmo que nos comprometamos a não comprar itens de consumo com essa origem, muitas vezes eles entram na produção de outros bens, e acaba-se consumindo-os sem saber.

Embora o velho e bom boicote deva permanecer firme como uma importante ferramenta de interferência dos consumidores nos rumos do mercado, não há como negar que cada vez mais certas questões - como é o caso da degradação ambiental, da má distribuição de renda, da qualidade de vida, entre tantas outras - por sua magnitude e complexidade, exigem que se lance mão de outras soluções que não dependam apenas das ações individuais dos cidadãos mais conscientes, mas que se fundamentem na força da participação social e em soluções pensadas e praticadas coletivamente.


O consumidor individual deve, sim, estar atento ao que consome. Contudo, cabe também ao Poder Público e aos fornecedores estar atento ao que tem sido colocado à disposição da sociedade e, principalmente, sensíveis às situações de vulnerabilidade do consumidor. Produtos que se originam de processos insustentáveis do ponto de vista social e ambiental, por melhor que seja seu desempenho no aspecto econômico, não se justificam, exatamente porque o ganho se estabelece através da perversa "socialização dos prejuízos e privatização dos lucros". Por isso, a efetivação dos direitos dos consumidores, especialmente pela defesa dos interesses difusos e coletivos, é certamente um passo fundamental e imprescindível para cogitar uma verdadeira mudança nos atuais padrões de consumo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Soluções individuais para problemas coletivos?

Hoje pela manhã, assistindo ao noticiário, ouvi um comentário que soou mal aos meus ouvidos: um consultor de segurança - pois é, há especialista para tudo - ao analisar o crescimento do mercado de blindados no Brasil, constatava que, porque o Poder Público não responde adequadamente à necessidade de segurança da população, caberia ao cidadão, então, encontrar suas maneiras de se defender da violência.
Mesmo descontando o fato de que este é o ganha-pão dessa pessoa, o que me parece preocupante nessa afirmação é o fato de corroborar uma prática que tem sido cada vez mais comum aos brasileiros: a busca por soluções individuais para problemas coletivos. Segurança pública não se resolve com cercas elétricas e blindagem, assim como questões ambientais graves como a do lixo ou da poluição atmosférica das grandes cidades não serão definitivamente solucionadas apenas com o sacrifício individual dos consumidores, consumindo menos, pagando mais caro por produtos ecologicamente corretos ou deixando seus veículos particulares na garagem uma vez por semana. Por mais que o cidadão se desdobre para impedir que a violência invada sua casa, somente a segurança pública, proporcionada à coletividade em geral, é que poderá oferecer a tranqüilidade e a paz que todos (e não só os que podem pagar por isso) merecem ter, da mesma maneira que, por mais que o consumidor se esforce para diminuir o impacto de suas escolhas de consumo sobre o meio ambiente, somente políticas públicas bem elaboradas e rigorosamente executadas é que poderão proporcionar um ambiente mais sadio e equilibrado, mediante a oferta de tratamento adequado aos resíduos sólidos ou transporte público eficiente, apenas para citar exemplos.
Precisamos estar atentos para não nos deixarmos levar, até de modo inconsciente, por esses discursos. Mais do que nunca, diante de questões coletivas de magnitude, reivindicar direitos, especialmente os direitos sociais dos quais todos somos titulares, pode ser um caminho difícil, porém o único que capaz de proporcionar soluções mais efetivas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Amanhã, 15 de março, será comemorado o dia do consumidor. De que jeito você vai celebrar esta data?

Minha sugestão para esta data é refletir sobre o significado da comemoração. Para que se festeja o dia do consumidor? Que conquistas justificam essa celebração? O que signfica ser consumidor e ser identificado como tal nos dias atuais? Que hábitos têm sido e ainda precisam ser cultivados pelos consumidores para construírmos um mundo mais sustentável? Afinal, temos sido consumidores ou consumistas?